Proteínas, portas e
janelas
O crescimento e o desenvolvimento do ser
humano estão associados ao consumo de proteínas, teorias nutricionistas dão
conta desta ideia. Não só o crescimento corporal, mas também o desenvolvimento
intelectual. Células abrem portas ou janelas para entrada de nutrientes, e
saídas de desnutrientes. Proteínas circulam pelo sangue e pelas células, depois
de passar em válvulas do coração e ter contato com o ar nos pulmões. Sequencias
de portas e janelas, do equilíbrio da bomba sódio-potássio às janelas da imensidão
celeste.
O primeiro produto pensado para levar em
jornadas e cavalgadas é a proteína animal, conservada pelo sal. Na falta de uma
caça, o viajante tem como garantia proteica: o charque, a carne seca ou a carne
de sol. Uma manta de carne, com uso do
sal produzido por uma tecnologia bastante simples; uma manta de carne benzida e
abençoada por uma exposição ao tempo e ao sol. Mantas de carnes adicionadas de certa
quantidade de sal, e expostas ao sol, como uma benção que vinda do céu, abençoa
o alimento da viagem. Carreteiros e tropeiros criaram uma gastronomia,
confeccionada em uma única panela, com arroz ou feijão, e uma carne conservada,
ou maturada. Uma mistura de conhecimento e alimentação.
Em um determinado momento da história, e em
determinado ponto do planeta, viajantes do deserto resolveram levar leite em um
recipiente confeccionado com vísceras de animais. O leite talhou, e ainda assim
os viajantes experimentaram e gostaram. Assim foi inventada a coalhada,
passaram então a levar o leite que talhava, em suas travessias no deserto. Mais
uma vez a proteína de origem animal, a caminho do desconhecido e do
conhecimento. Com vísceras de animais, se faz o talho do leite para produzir
queijos, bem antes do talho químico hoje comercializado.
O caboclo, o sertanejo sai pelo sertão, pelo
serrado, e pela caatinga, em busca de mercadorias e conhecimentos, levando em
seu bornal a garantia de uma sobrevivência com: carne, farinha e rapadura.
Conhecimentos ele encontra pelo caminho, com raízes, folhas e frutos, seus usos
e seus abusos. Aprendeu e aprende por experiências próprias, informações de
outros, e observação dos animais. Cangaceiros do bando de Lampião construíram
um conhecimento atravessando sertões, de onde tiravam bebidas, comidas e
medicação.
O cérebro também abre portas e janelas para
adquirir um conhecimento. Com informações sensoriais é possível construir um
conhecimento. O corpo humano é um ser vivo dotado de inteligência e mobilidade,
que aumenta com o crescimento corporal e intelectual. A carência de proteínas
pode causar danos irreversíveis à formação fetal, ao crescimento pueril e
estudantil, ao crescimento social e intelectual. E o homem é um ser nômade que
anda sempre à procura de alimentos e conhecimentos. Desde o período de busca de
caças, que finalizava e terminava fazendo uma fogueira para assar ou cozinhar
em acampamentos improvisados; chega hoje aos períodos de um passeio na caça de
compras e ofertas em um shopping, terminando com um lanche na praça de
alimentação, e depois pegar suas montarias, com medidas em HP, em baias de estábulos, agora denominados de estacionamentos.
Cansado ou acuado em cavernas, o homem
primitivo saia periodicamente em busca de alimentos e conhecimentos, quebrando
o mito da caverna de interpretações em sombras. Abandonou as cavernas e
construiu seus próprios abrigos em seus caminhos. Conseguiu mobilidade ao
deixar de habitar cavernas e construir abrigos. Aprendeu a construir abrigos
quando precisou ir mais longe buscar alimentos e conhecimentos. O frio o forçou
a produzir agasalhos, com as sobras dos alimentos, peles e couros foram os
primeiros agasalhos, para se proteger do frio e dos espinhos no caminho. Criou
abrigos e acampamentos abertos e arejados possibilitando observar o ambiente á
sua volta, sempre atento a sons, cheiros e alcances visuais. À medida que
evoluiu seu conhecimento, isolou-se novamente em novas cavernas artificiais, casas
e apartamentos, tal como fazia em cavernas naturais. Agora com modernidades e
tecnologias pode acessar o mundo externo. Janelas possibilitaram a continuar a
ver o que acontecia do lado de fora, e câmeras complementam seus olhares.
Em uma casa ou uma universidade, cheia de
portas e janelas há espaços para o ar circular. Escritórios fechados e sem
janelas costumam ser especializados em apenas um assunto, ou mais comumente,
desenvolver parte de um assunto. Há um ar artificial circulando por dutos de ar
condicionado e terminais de computador. Seus funcionários funcionam por
comandos de ordens de serviço (OS), encerram suas tarefas sobre determinado
assunto, e passam para o departamento seguinte. Funcionários que não cumprem
suas OSs podem ser deletados, excluídos dos arquivos constantes no RH, antes
que se tornem vírus e contaminem os processos e as pessoas.
Uma universidade sempre está aberta para o
universo, deve formar um conhecimento plural. Água parada cria lodo, pedra que
rola perde as arestas e tende a criar uma forma esférica, que facilita cada vez
mais seu rolamento para chegar a outro lugar, quebrando sua estática posição de
inerte.
Casebres com pequenas portas e pequenas
janelas, estão associados a regiões pobres e carentes, com uma população de
baixa renda e poucos recursos, por muitas vezes sobrevivendo do que pode ser
retirado de locais próximos como aterros sanitários, depósitos de coisas velhas
e solos esturricados pela seca. Casas sem ventilação e sem informação, sem
iluminação e sem refeição.
Uma boa alimentação está associada a um bom
rendimento escolar; e bons resultados em empresas. Refeitórios e restaurantes
em escolas e empresas contribuem com um bom desempenho. Bons rendimentos e boas
remunerações tendem a novos hábitos alimentares evoluídos por uma gastronomia.
O modelo food truck começa a tomar
conta do país levando saberes e sabores ás ruas por meio de uma gourmetização dos produtos já
existentes. Até a tapioca ganha novos sabores com novos recheios.
Quando tudo acaba em pizza, coberturas
diversas são solicitadas. Arroz com feijão, e rapadura com farinha são
alimentos para uma sobrevivência, para não morrer de fome, tal como rações em
períodos de guerra, quando não há como ter um rancho para alimentar
adequadamente soldados no front de guerra. As tropas têm um melhor desempenho
quando bem alimentadas. Comandantes são sempre bem alimentados, com conforto e
exclusividade em seus cardápios, já que ocupam posições de comando na paz ou na
guerra.
Saberes e sabores estão relacionados desde os
tempos bíblicos relatados em Gênese, quando Deus deu permissão a Adão e Eva, de
provar todos os frutos que estivessem no jardim do Edem. Exceto um, que lhes
proporcionou um maior conhecimento. O
fruto que estava localizado no meio do jardim, tal como um processador em uma
placa verde, a placa mãe, enquanto o paraíso terrestre estava na mãe terra.
Se Deus fez o homem à sua imagem e
semelhança, o homem fez o computador a sua imagem e semelhança. Um computador
processa seus dados como um homem processa seus pensamentos, buscando arquivos
na memória. E se arquivos de saberes e sabores não foram instalados em HDs
cerebrais, quando portas e janelas estavam abertas, não há como encontra-los,
quando deles precisa-los.
É por entradas e saídas, portas e janelas que
um computador recebe ou envia dados. Com prótons e bytes circulam informações e
conhecimentos entre seus chips celulares, e suas memórias.